Sobre Pirlimpim:

Quando fui apresentada à completa coleção Ler-Criar-Brincar da Edições Saruê, meus olhos foram instantaneamente atraídos pelas cores e formas do Sol de Pirlimpim. Em meio a tantos personagens interessantes do conjunto, os dois que capeiam este livro brilhavam carisma. “Quero conhecer essa estória”, pensei imediatamente. Já primeira página, tive certeza: o livro, se encontrado em meu tempo de leitora mirim, seria daqueles que aos 30 anos recompraria só pelo prazer de tê-lo na estante. Além do fascinante herói Pirlimpim e um curioso narrador alienígena, Adriana Aneli traz informações sobre a natureza e uma narrativa comovente sobre amor, rejeição e renovação. Através do trabalho impecável de Adriana Elisa Bozzetto e Fernanda Llanos Angelo, a edição bilíngue conta ainda com jogos e pôster para colorir. Sem dúvida uma criação que aproximará adultos e crianças com muita reflexão e diversão!

Aira Maiger

BRINCAR é coisa SÉRIA

O ano todo a gente enfrenta. Recesso são duas semanas usadas para desligar, recarregar a energia ( = achar que vai dar conta desse tanto acumulado que não dá para organizar durante as outras cinquenta semanas).

Mas entre armários para arrumar, papelada para descartar, revisões de livros para fazer, vou para este fim de ano com a ideia de me permitir fazer nada.

E desse nada, quase infantil, é que a criatividade pode fluir. Bora pintar, desenhar, esculpir um projeto de lobo uivando pra lua. Ver desenho na TV; ler livros feitos para crianças…

Começo pelo meu Sol. De Pirlimpim. Escrito aos 15 e lançado 30 anos depois, com o fôlego de quem sobreviveu à passagem do tempo; repaginado pela curadoria de Nima Spigolon e Rauer, as mãos talentosas de Willia Katia, o olhar pedagógico da minha Adriana, a Elisa, companheira na vida e na literatura.

Leio com orgulho a lenda criada, o amor como mote. Perdão, superação, transformação. Pirlimpim, diz a editora Cláudia, é feito de entrega, Amor incondicional como deve ser. A generosidade do personagem criado há anos,  comove. O Amor resiste. Resistimos.

Eu e Marina, a filha, enfeitamos nosso Natal de isolamento com as atividades do livro. Desenhos coloridos nos dizem: 2022 será um ano melhor.

Será.

Sigo com novos livrinhos; passo ao “Lá vai o Piolhinho”, de Simone Gamero e sua”estória” – porque estou em desacordo com o Novo Acordo quanto à eliminação dessa palavra e da aposentadoria precoce do trema. Feita em tecido bordado e alinhavando o Amor à Amizade, a autora nos conta essa verdade tão linda:

… quem piolho tem
É decerto alguém
Que muito saber amar.
Porque não rejeita ninguém,
E adora abraçar.
Mesmo quando lhe dizem:
– Fique longe da piolhenta
Dá de ombros, nem esquenta:
– Amiga, vamos brincar!

Amiga, vamos brincar! Brincar de canto e ciranda, brincar de poesia com “o gambazinho saruê”,  de Nima, a viver uma vida de rima e cantiga,  de haikai e soneto, um livro de tradição, com uma única regra a seguir: ser feliz.

Igual a pirilampo
o saruezim
é  uma luz do campo.

(…)

Uma luz do campo
é o saruezim
igual a Pirlimpim.

Tradição é ato ou efeito de transmitir ou entregar; transferência. Nossa linha agora costura o Amor-Amizade à Solidariedade, essa, que desperta a inteligência do Guri, de Rauer, o mineiro morador do Pantanal e conduz a baleinha desgarrada de volta ao mar.

Kaváfis alerta que não adianta fugir, a cidade te acompanhará, aonde você for. Que sorte! Nosso heroi leva Minas por dentro, sua história afetiva, e com ela acolhe o filhote frágil e desnutrido: alimenta, fortalece, mostra o caminho da volta. Saberemos, também nós, acolher aos que vem de fora? Achar um caminho para todos desta estrada bipartida?

Carinha risonha,
guri sonha:
– e torna possível,
o impossível.

Pausa para o desenho que vejo na TV. Dois irmãos, da Pixar, a nos lembrar: … há muito tempo, o mundo era cheio de maravilhas, tinha aventura, emoção, e, o melhor de tudo, tinha magia. E a magia ajudava a todos que precisavam.

Inevitável pensar na Patrícia e sua mãe Suely, do casarão da Vilaboim em que se avizinham loja de brinquedos Hortelã e OUI Artesanatos. Se eu tivesse que procurar os segredos de magia para o bem, guardados por séculos, seria exatamente ali a começar.

Pois descubro que Patrícia, aos 16 anos, também escreveu seu livro infantojuvenil: “Jucaré e a turma da Lagoa do Croá”. E não por acaso, essa fábula ricamente ilustrada por Cláudio Martins se agrega ao meu tecido de encantamento. Nele o Altruísmo do personagem é chave para derrotar a vaidade, o egoísmo, e a intolerância dos demais; o Afeto é o ingrediente mágico que nos torna melhores e mais complexos. Seria diferente fora dos livros?

Encontro no livro “Luz”, de Rômulo Garcias (gigante!!!), essa mesma certeza: a soma das diferenças, amálgama de esplendor e escuridão, de  amanhecer e anoitecer – o chiaroscuro – é que torna tudo mais belo.

Neste dezembro tenho também Caetano e a Frida. Tenho sonhos e livros. Preencho meus dias com inteligência orgânica, não artificial; a demanda analógica e não digital; a Ternura que nasce do artesanato e das tantas pequenas atividades do dia: Deus quer, o homem sonha, a obra nasce!

São dias de infância no parque do Ibirapuera, na companhia de Ruth Rocha, Ricardo Azevedo, Ziraldo, Ana Maria Machado que desejo a todos em 2022: um gramado verde, esparramados em esteiras, espreguiçadeiras e algumas redes. Crianças com livros nas mãos e um feliz mundo novo!

Sol de Pirlimpim

Pirlimpim é filho de um cometa e vive no espaço. Encarregado de distribuir brilho entre os astros, um dia ele conhece uma pequena estrela que está se apagando e se apaixona por seu canto… Poderá Pirlimpim salvar o Sol? Ele arriscará tudo em nome desse amor? O que fará o Sol quando se tornar a estrela mais brilhante do Universo? Uma lenda de amor, gratidão e transformação, contada em desenhos coloridos e atividades interativas. A autora vai além do texto e assina, também, o projeto visual e as ilustrações. O livro é bilíngue, com a versão para o espanhol e a revisão dos textos realizadas por Paulo Bentancur.