A vida é bela

Não mente sempre a arte? E não é quando mente
mais que ela se revela mais criativa?


Konstantinos Kaváfis
Reflexões sobre poesia e ética.


Não sei dizer dos animais, senão do homem que os copia. A mentira é a linguagem do mimetismo, a evolução possível: o processo pelo qual nos adaptamos a cada nova situação, conforto na guerra.

Ludibriar, manipular. Há vários propósitos em mentir: enganar, iludir… Os mais óbvios; o mais nobre? Reelaborar certezas e, assim, criar realidades falsas e, por isso, menos dolorosas. Este o papel da arte.

Mentirosos são mestres da ficção e, neste passo, subvertem a consciência do provável, pela mágica delicada do imprevisível. Nada difícil, portanto, entender por que poetas são fingidores: escrever é mentir e mentir — poupar leitores da passagem do tempo.

Quem fala a verdade, vai repeti-la no dia seguinte ou daqui a um ano; mentir é criar truques de ilusionismo, trazer o passado para agora, no instante mesmo em que começa o futuro.

Acreditar naquilo que se queria por verdade, é o primeiro passo para transformar ideias. Preparar na fantasia seu exército de camaleões, prontos a desarticular o modelo esgotado de realidade e gerar novas sínteses emocionais que produzam oxigênio —  num mundo em que há tempos não consegue respirar.

Talvez, só talvez, a mentira seja a lanterna dos afogados, onde nos agarramos temporariamente. Seguros entre poemas e contos, personagens imaginários; sonhamos asas – enquanto sabemos que pernas curtas estão prestes a congelar na verdade escura.


b.e.d.a — blog every day august — um desafio que surgiu para agitar os dias
de abril e agosto nos blogues e comemorar o Blog Day.


4 comentários em “A vida é bela

  1. Coloquei como divisa: “Sou escritor – digo a verdade, mesmo quando minto… Minto, ainda que diga a verdade…” – parece dizer a mesma coisa, mas há uma sutil diferença. De qualquer maneira, por mais que pareça algo cafajeste, não é intencional. Apenas uma constatação.

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