Clique.
— Com certeza você é melhor pessoa do que eu.
Clique. O recorte.
— Cuidar da casa, do marido, dos filhos do casal.
Clique. O melhor ângulo.
— […] outro espécime capaz de dizer as palavras certas, de realizar os movimentos de encaixe, roubar o ar que respiro, o chão que eu piso. Me desabrigar…
Clique. A melhor paisagem.
Feita a carvão, a história de personagens femininas se fortalece. Mulheres em rascunho bruto, rancor alcoolizado, dores que se perdem nos próprios labirintos de ideologia e renúncia, dúvidas, abandonos… Revanche em gosto requintado, obras de arte vivas em velhos casarões…
Em quatro atos se forjam as linhas de pensamento em Vermelho. Por dentro, onde a angústia dos personagens pulsa e o desejo vagueia por entre um passado que nunca se realiza e o futuro que não se pode esquecer.
Horácio, Mauro, Dário, Eva, Deborah, Cláudia, Susan, Anne… Os gêmeos, Lucca… estão ali, todos, mas sempre pela metade. Homens e mulheres que cumprem seu papel neste Museé de Grévin: passividade versus ebulição até que a paixão os liberte.
Não por acaso a mais fraca dos personagens é a única que se derrama em surto contínuo. Sem saber qual papel ocupar do lado de fora — e por esta mesma razão —, Cláudia arrasta todo o arredor de clichês para dentro de si — a força necessária para defender seu cúmplice mais vulnerável, o pai, contra sua oponente mais cruel, a mãe.
É neste mosto de mágoa e futilidade, que o aluvião arrasa qualquer esperança de paz entre os autômatos de uma sociedade que a todos modela, e os artistas da imagem que sobrevivem a essa maldição.
Em Vermelho não se pode esperar explicação para tudo. A intuição marca o ritmo deste romance que nunca revela exatamente como algo começa ou se acaba. A autora sabe que é na falta de redenção que sangra nosso vermelho mais denso: quanto ódio /diz /quanto ódio / não sabes / tens / dentro de ti…
Clique. Um retrato por existir…
A poesia intensa nasce sob nossas máscaras. E cada personagem é um espelho a gritar nossas culpas.
Clap clap clap clap é tudo pra dizer porque estou aqui sem unhas a esperar pelo meu vermelho.
Tá, morri e inveja de tu que já leu e escreveu essa belezura aí. Fiquei com mais vontade de visitar o ‘museé de Grévin’. Adorei isso. Aliás, tu és a autora do amor expresso, certo? Aquele livro com aroma, cenas de filmes e cotidianas que a Lu me enviou. Sou fã, viu? E já grudei aqui. Voltarei vezes mais.
bisous
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E você não imagina o privilégio de ler este romance em primeira mão! Muito obrigada pelos comentários sobre o ‘amor expresso’… ah quero permissão para acompanhar seu blog!
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